Desde pequena, Lúcia era considerada a mais sensível entre suas amigas. Era uma menina empática e colaborativa, por isso escolheu ser Assistente Social. Profissionalmente era uma pessoa muito realizada, mas na sua vida pessoal ela é quem precisava de assistência. 
Em sua casa ela já não recebia amigos. Embora o espaço fosse grande, transitar por ele era inviável. Lúcia não conseguia se desfazer de objetos desnecessários, a desorganização era nítida e pensar em descartar esses itens era uma grande fonte de sofrimento.
Acumular as coisas não era algo recente na vida dela. Esse já tinha sido motivo de muitas brigas no seu núcleo de origem. Seu pai sentia a necessidade de acumular de forma compulsiva objetos e animais. A situação se estendeu por muitos anos, sua mãe não aguentou mais e se divorciou dele.
Lúcia e seu pai sofrem do Transtorno da Acumulação (TA), que é relacionado ao Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).
O TA foi incluído na 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), tendo como critérios para diagnostico deste transtorno:

1. Dificuldade persistente de descartar ou de se desfazer de pertences, independente do seu valor real. Essa dificuldade persiste por bastante tempo, não é momentânea. O indivíduo tem dificuldade de jogar, vender, doar ou até mesmo reciclar. Isto acontece porque ele teme perder algo importante, desperdiçar ou até se desfazer de algo que tem um valor sentimental. Os acumuladores podem guardar livros, jornais, roupas velhas, revistas, correspondências ou até itens com valor real.

2. O acumulador sente uma necessidade de guardar os itens e tem sofre se tiver que descartar os objetos. A pessoa guarda os objetos de forma intencional e proposital, pensar em se desfazer deles gera uma angústia muito grande.

3. O ambiente do indivíduo fica comprometido, os objetos ficam acumulados e atrapalham e obstruem as áreas da casa. Em qualquer ambiente utilizado ativamente seja quarto, sala ou cozinha o qual fica congestionado e obstruído com os objetos. Quando as áreas não estão obstruídas, normalmente, é porque algum familiar, autoridade ou funcionário interveio. O acumulador é diferente do colecionador, este costuma organizar de forma sistemática seus itens e não possui prejuízo ou sofrimento devido a isso.

4. A acumulação e a dificuldade de descartar gera sofrimento significativo ou prejuízo em diversas áreas da vida do sujeito como social, profissional, pessoal etc. Quando o paciente possui insight pobre ele pode afirmar não ter sofrimento, porém quando alguém tenta descartar seus pertences, o sofrimento fica evidente.

5. Os sintomas do transtorno de acumulação não são devido a outra condição médica ou outro transtorno mental. 

É importante especificar se o paciente possui:
Aquisição excessiva, ou seja, se o paciente adquire de forma exagerada novos itens desnecessários ou que não tenha espaço para eles, além de ter dificuldade de se desfazer dos seus pertences. 
Insight:
Bom ou razoável, no qual a pessoa reconhece seus pensamentos e comportamentos relacionados à acumulação tem gerado problemas.
Insight pobre: a pessoa crê que seus pensamentos e comportamentos relacionados a sua dificuldade de acumulação não são problemáticos, embora tenha provas que contrariam isso.
Insight ausente/crenças delirantes: o sujeito está convicto de que seus pensamentos e comportamentos relacionados à acumulação não são problemáticos apesar das evidências provarem o contrário.

O indivíduo que sofre de TA pode ser muito indeciso, procrastinador, perfeccionista e possui dificuldade no planejamento e organização de tarefas. A acumulação pode gerar transtornos graves na vida dele, por isso, a terapia é importante para ajudar o paciente a questionar seus pensamentos distorcidos e a reestruturar as suas crenças sobre o perfeccionismo, a organização e acumulação excessiva.

O CETCC possui formações que podem te preparar para atender esses pacientes, conheça clicando aqui