Diferenças entre Neuropsicologia e Neuropsicopedagogia


Lilian Frossard


A aprendizagem tem sido uma área de investigação e intervenção clínica importante nas últimas décadas, especialmente porque, com o entendimento de que todos são capazes de aprender mas nem todos o fazem da mesma maneira, o esforço para incluir todos os sujeitos no universo das oportunidades para aprender vem se dando de modo amplo e irrestrito. 

Sara Pain (1985)  afirma que o processo de aprendizagem se constitui como a mais ampla definição da palavra educação. Diante dessa premissa, saberes como a Pedagogia e a Psicologia ganharam grande espaço, corroborando, cada uma delas com sua especificidade, para a ampliação do olhar sobre as formas de aprender.

Somou-se às ciências já tradicionalmente envolvidas na busca pela compreensão da aprendizagem como processo, uma nova ciência, a Neurociência, trazendo a compreensão de como os processos cerebrais se organizam e se modificam com e no ato de aprender. A partir daí, é possível o surgimento de áreas de atuação que se valem das contribuições e convergências de tais ciências; nasce a Neuropsicopedagogia.  

A área da Educação foi intensamente beneficiada por esse campo de atuação, principalmente quando se evidencia a possibilidade do rastreio das habilidades acadêmicas diante das quais sujeitos precisam ser considerados para exercer seu potencial de aprendizagem no ambiente escolar. A Neuropsicopedagogia vem, portanto, ancorar-se na Pedagogia, na Psicologia Cognitiva e na Neurociência para investigar a relação entre cérebro e aprendizagem humana numa perspectiva de reintegração pessoal, social e escolar (SBNPp, cap. II, art. 10). 

Em suma, a Neuropsicopedagogia tem seu olhar voltado para questões relacionadas à aprendizagem, utilizando-se como recurso de investigação do funcionamento cerebral e seus desdobramentos para o ato de aprender, buscando potencialidades e limitações dos indivíduos e colaborando com sua inclusão no universo educacional. A atuação desses profissionais pode se dar em ambientes clínicos, escolares, hospitalares e acadêmicos. A formação anterior na área da educação favorece a especialidade do Neuropsicopedagogo porém, tem sido comum profissionais clínicos como fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais buscarem tal especialização para complementar sua formação e seu olhar sobre as dificuldades de aprendizagem de seus pacientes. 

O uso de testes não restritos à psicólogos envolve a formação do Neuropsicopedagogo porém, a aplicabilidade tem como foco clínico as dificuldades de aprendizagem e o contexto educacional. 

A Neuropsicologia, por sua vez, teve seu campo de atuação muito fundamentado na relação entre cérebro e comportamento. Carmargo, Bolognani e Zuccolo (Fuentes, 2014)  reconhecem que, os estudos experimentais de Luria a partir de 1966, com pacientes que sofreram lesão cerebral da Segunda Guerra Mundial, proporcionaram o desenvolvimento de métodos de investigação eficazes ao diagnóstico de doenças neurológicas e neuropsiquiátricas e a reabilitação pós cirúrgica desses pacientes. 

A avaliação neuropsicológica ganha outro marco, posteriormente, sustentado pelo avanço tecnológico dos estudos de neuroimagem, podendo então, investigar disfunções cerebrais a partir de marcadores comportamentais, cognitivos e sociais. As funções neuropsicológicas recebem, portanto, atenção especial. 

A investigação diagnóstica e intervenção da Neuropsicologia se dá por diversos motivos, seja para o auxílio diagnóstico que busca diferenciar hipóteses sobre o funcionamento de um sujeito em comparação com sujeitos de seu mesmo grupo etário, nível de escolaridade ou sexo, seja para orientar prognósticos para indivíduos pós cirurgias neurológicas, para orientação de tratamentos e reabilitações ou perícia. 

Por se tratar de uma especialidade que se apoia no funcionamento cognitivo e afetivo-social dos indivíduos, tem sido muito frequente que as especializações em Neuropsicologia sejam realizadas por Psicólogos, que trazem uma bagagem de formação mais robusta do ponto de vista metodológico e clínico sobre os aspectos que embasam a pesquisa e investigação da Neuropsicologia.

A Neuropsicologia busca, na interface entre Neurociência e Psicologia, a partir de modelos neurais e cognitivos muito bem estabelecidos, investigar e propor intervenção às funções neuropsicológicas, como por exemplo, a atenção, a memória, a linguagem, dentre outros. O campo da reabilitação neuropsicológica ainda está em grande expansão, como sustentam Haase (2012) , quando dizem que “há um vasto e ainda pouco explorado campo de reabilitação neuropsicológica. 

Tal domínio tem objetivos de capacitar pacientes e familiares a desenvolver estratégias para conviver, lidar, contornar, reduzir ou superar as deficiências cognitivas resultantes de dano neurológico/neuropsiquiátrico”. O uso de testes restritos à psicólogos é instrumentação primordial para a investigação neuropsicológica, o que torna a graduação em Psicologia uma particularidade para esta especialidade, no âmbito clínico. 

Portanto são duas áreas que, embora contenham como premissas campos de aplicabilidade distintos, possuem uma atuação que dialoga, possibilitando trocas de experiências, união de forças e podem contribuir imensamente para o sucesso, bem estar e avanço na qualidade de vida dos indivíduos que recebem o seu olhar. 


 



Sobre a autora:


Lilian Queiroz Frossard é psicóloga, graduada pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e Mestre em Psicologia pela mesma instituição. Pós-graduada em Psicopedagogia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Neuropsicologia pelo Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC). Atuante na área da Psicologia Escolar desde 2001, com experiências em Psicologia Clinica e Docência. Atualmente, coordena o curso de Neuropsicopedagogia do CETCC e atua como Psicóloga Clínica. É, ainda, Orientadora Educacional no Colégio Petrópolis em São Bernardo do Campo – SP. Contatos: (11) 975928408 e lilianqueiroz@cetcc.com