Em textos anteriores, apresentei algumas técnicas para trabalhar as cognições, as emoções e os comportamentos na clínica com os adolescentes. Hoje irei focar nas técnicas para o trabalho com as crianças. Nas intervenções com as crianças, temos a disposição uma imensidão de recursos, como livros, jogos, filmes, músicas, baralhos, gibis, além dos que podemos construir de acordo com a demanda de cada paciente/cliente. Para trabalhar as emoções, a psicoeducação é a primeira técnica que lançamos mão, já adiantando, ela também é a primeira no trabalho com as cognições e comportamentos. É primordial que primeiramente a criança seja psicoeducada sobre o que são as emoções, qual o papel de cada uma, como elas podem ajudar e/ou atrapalhar. No decorrer da intervenção vamos ajudá-las a como identificar as emoções, a ver como elas aparecem no corpo e como podem ser manejadas. Na psicoeducação sobre o que são as emoções, o baralho das emoções, o livro Que Emoção é Esta e o jogo da memória das emoções são ótimos recursos para este trabalho de nomeação. Para este fim, além desses materiais citados, o terapeuta pode selecionar da internet alguns emojis ou expressões faciais das emoções e criar suas próprias cartas para atuar com a criança. O terapeuta dispõe as cartas e pede para a criança dizer que emoção ela acha que cada carta está apresentando. Também já pode relacionar a situação, perguntando o que ela acha que aconteceu que gerou tal emoção.  O filme Divertida Mente é ótimo para explicar a função das emoções, como o desenho Os Croods para trabalhar a emoção Medo e a metáfora do vulcão para trabalhar a raiva. Os livros Que Emoção é Esta e O Grande Livro das Emoções, ajudam na tarefa de relacionar as emoções aos gatilhos e a atividade Onde eu Sinto, auxilia no conhecimento da criança para perceber onde ela sente a emoção no corpo. Esta atividade Onde eu Sinto, é facilmente encontrada na busca na web. Outra possiblidade para identificar a emoção no corpo é fazer o contorno do corpo da criança no papel Kraft e depois solicitar que ela sinalize onde sente cada emoção e sua intensidade. O termômetro e a régua das emoções servem para ensinar a criança a mensurar a intensidade e a frequência das emoções e também classificá-las em agradáveis e desagradáveis de sentir.  Todo esse aparato técnico citado cumpre com o papel inclusive de relacionar o que está sentindo com a forma de pensar e consequentemente com a forma de se comportar. Uma possibilidade de manejo clínico é: você me disse que quando sua amiga não lhe disse oi, você sentiu raiva. Mostre-me nessa régua quanto de raiva você sentiu. Onde sentiu a raiva no seu corpo? O que passou na sua cabeça? Para o manejo citado, pode-se usar como recurso o Registro de situação, pensamentos e sentimentos, o qual na terapia com adultos é o registro de pensamentos disfuncionais de três colunas (RPD). Neste RPD, tem-se as colunas situação, pensamento e emoção. A coluna pensamento pode ser exemplificada por uma bolha de pensamentos e a de emoções pode ser o desenho do semáforo. Utilizando o semáforo para as emoções, o terapeuta consegue verificar com a criança qual a cor da sua emoção, realizando a analogia com o semáforo do trânsito. Por meio deste manejo é possível dar repertorio para a criança regular sua emoção, bem como expressar comportamentos adaptativos. A técnica do semáforo, a respiração diafragmática, distratores (ouvir música, ler um livro) e a técnica do time aut (dar-se um tempo), são indicadas para o manejo das emoções. O objetivo das técnicas para trabalhar as cognições é estabelecer a relação entre o evento, os pensamentos, as emoções e os comportamentos. Para a psicoeducação sobre o que são os pensamentos pode-se usar a metáfora do ônibus. Dizemos para a criança que os pensamentos são automáticos e que eles vêm e vão, portanto não conseguimos controlar em qual pensar e não pensar, mas podemos escolher em qual embarcar. Imagine que você ao chegar na Rodoviária de São Paulo, queira ir para o Rio de Janeiro, só que terá ônibus chegando e saindo para diversos lugares, então posso embarcar em qualquer um para chegar ao Rio de Janeiro? A resposta é não, certo? Assim também é com os pensamentos, não são em todos que devemos embarcar. A identificação dos pensamentos pode ser feita por meio do RPD com as situações que a criança traz. Outra forma é pelos recortes de filmes e desenhos. O terapeuta passa a cena que deseja trabalhar e pede a criança para imaginar o que o personagem pode ter pensado em tal situação e relaciona com a demanda do paciente. A mesma proposta é aplicável às metáforas e às histórias em quadrinhos. A técnica levantamento de hipótese, é usada para ressignificar, reestruturar o pensamento.  O terapeuta convida o paciente a imaginar-se sendo um detetive ou cientista, nestes papeis eles irão procurar pistas, provas que comprovem o pensamento ou não. Irão verificar se são pensamentos que ajudam ou não ajudam e avaliarão as vantagens e as desvantagens de continuar embarcando em determinado pensamento. A reestruturação dos pensamentos pode ser realizada também pela metáfora da lagarta. Neste exemplo, a lagarta representa os pensamentos que não ajudam e a borboleta os pensamentos que ajudam. Assim como a lagarta se transforma em uma borboleta, terapeuta e paciente irão analisar novas perspectivas para transformarem pensamentos que não ajudam em pensamentos que ajudam. Uma boa analogia para esta análise é levando a criança a ver-se em uma gangorra, o que além de ser divertido, podemos ver o “mundo” de três formas: quando estamos “no alto”, quando estamos “no meio” e quando estamos “embaixo”. Na vida também podemos ver as situações por vários ângulos. Já os comportamentos podem ser trabalhados com o auxílio das técnicas: Economia de Fichas, a qual tem por objetivo aumentar comportamentos adaptativos e reduzir os desadaptativos por meio do foco positivo dos pais para os comportamentos listados; Relaxamentos, como a respiração diafragmática, a qual ajuda na regulação das resposta fisiológicas; Pare e Pense, o terapeuta pode confeccionar com a criança a placa do pare e juntas treinar com o apoio da técnica do semáforo, os momentos em que precisa parar e pensar antes de agir;  Role play é outra técnica para aumentar o repertório comportamental adequado. Ela é frequentemente usada no treino de habilidades sociais.  Cabe ressaltar que todas as técnicas citadas, bem como os recursos, precisam ser adaptados ao momento desenvolvimental da criança. Lembre-se: a adaptação sempre será da técnica ao paciente/cliente, NUNCA o contrário.



Um grande abraço,


Ana Paula Moreira

CRP 06/105482

Psicóloga – Crianças e Adolescentes  

Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental 

Contato: 12-99231-3125


Dica de leitura:


> Bunge E, Gomar M, Mandil J. Terapia cognitiva com crianças e adolescentes – aportes teóricos. São

Paulo: Casa do Psicólogo; 2012;

> Circe Salcides Petersen, Ricardo Wainer e colaboradores. Terapias cognitivo –comportamentais para crianças e adolescentes: ciência e arte. Porto Alegre: Artmed, 2011;

>    Papalia DE, Olds SW, Feldman RD. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: AMGH; 2010;

> Stallard P. Bons pensamentos – bons sentimentos: manual de terapia cognitivo- comportamental para crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed; 2004.