Como citei no texto anterior, tem sido frequente ouvir que a cada dia as pessoas estão sentindo-se de uma forma e que essas oscilações são perfeitamente normais, não havendo nada de errado em sentir-se assim.
Inclusive já são esperadas para o contexto atual.
Vimos também que não existem emoções ruins, o que existe são emoções agradáveis e desagradáveis de sentir, mas todas elas têm uma função na preservação da vida. Foi apresentado o papel da raiva e como ela pode ser manejada.
Hoje abordarei sobre o MEDO e a TRISTEZA.
Vamos começar pelo Medo.
A função básica da Emoção Medo é a de preservação, ela objetiva antecipar os danos físicos e psicológicos e gerar ação reflexa de luta-fuga ou “freezing” (congelamento), promovendo vantagens adaptativas. Socialmente, de forma equivocada, é interpretado que sentir medo é sinônimo de fraqueza e assim não é aceito e nem validado e tem-se o entendimento de que, assim como a raiva e outras emoções desagradáveis de sentir, precisa ser eliminado.
 Para beneficiar-se da função dessa emoção, primeiramente é preciso reconhecer que ela é essencial para a sobrevivência. Em segundo lugar, é importante dosar o medo, porque em doses altas ao invés de proteger, ele tira o sono, faz comer sem necessidade e faz querer fugir de situações que poderiam ser enfrentadas, como por exemplo uma apresentação escolar. Já em doses baixas, atravessaríamos a rua sem olhar, colocaríamos a mão na boca de um leão, comeríamos alimentos sem dar conta da procedência e qualidade. 
Pelo fato do Medo está associado à fraqueza, o primeiro passo para seu manejo é fazer essa separação, romper com esse mito. Compreender que é virtuoso falar sobre o medo e suas formas de apresentação como por meio da preocupação, vergonha e ansiedade, e que isso não torna o adulto, o adolescente, ou a criança, fracos, mas sim corajosos. Porque é preciso muita coragem para falar de si, deixar-se ser conhecido.  Após esse passo, é permitir um ambiente acolhedor, de aceitação para conversar sobre o assunto. Alguns recursos facilitam esse entendimento como por exemplo livros, desenhos e filmes. O desenho Os Croods é uma ótima opção para mostrar para as crianças essa função primitiva do medo e a necessidade de dosar essa emoção. O livro da editora Sinopsys – O Medo e seus disfarces também é fantástico para entender o papel do medo, como suas formas (disfarces) de se apresentar e sua intensidade. Um exemplo de filme é mais uma vez o Divertida Mente, que mostra, além do que já foi citado, o quão adaptativo é enfrentar o(s) medo(s). Como devem ter percebido, o convite ao falar sobre as emoções é para olhá-las por uma nova perspectiva, vê-las pela ótica da compreensão dos seus papeis e da sua validação.
Nesta direção, que tal saber como a tristeza, uma emoção desagradável de sentir, pode auxiliar na regulação da saúde emocional?
Por mais que seja difícil de aceitar, a Emoção Tristeza faz parte da vida como as demais. Evolutivamente ela tem a ver com laços sociais, pois quando aceita e validada, ela possibilita que uma habilidade social seja posta em prática, a empatia. Por meio do comportamento empático, a criança, o adolescente, o adulto pode ser apoiado, consolado e encorajado. A tristeza também pode promover reparação, como ela leva a um estado de introspecção, um olhar para dentro, ela permite avaliar e dar valor ao que realmente é importante.
No livro Quando a tristeza aparece – Editora Sinopsys, é retratado de forma sensível o diálogo de uma mãe com seu filho sobre a eminente morte de seu bichinho de estimação. No decorrer da conversa fica evidente o reconhecimento e a explicação do papel da tristeza, a validação que é normal sentir-se assim, pois significa que ele se importa com seu bichinho e está doendo o fato de perdê-lo e o benefício de encontrar espaço nos pais, adultos de referência para falar e consequentemente receber amparo, carinho e ajuda para viver a situação. Outra menção neste livro que me leva a indicá-lo é a apresentação de duas outras emoções que são citadas. Quando as crianças/adolescentes são encorajadas a admitir a tristeza, chega uma outra emoção, o amor. E a partir da coexistência dessas duas nasce a saudade. Com o tempo a tristeza vai indo embora, chegando a alegria.  Ficando no entanto a saudade de quem e/ou do que se foi e era valioso, o amor e alegria do que ficou de memórias e do novo que pode estar e ser construído.
Espero que essas emoções desagradáveis de sentir, possam encontrar espaço em sua casa interna e externa e cumprir com suas funções. Como terapeuta de crianças e adolescentes, o incentivo pais, a olharem para si, acolherem todas as suas emoções, desfrutando o que cada uma oferece, para ajudar seus grandes e pequenos também nessa jornada de aprendizado, crescimento e construção de valores fundamentais para nossa sociedade.