Nos dias que estamos vivendo, nosso modo “sobrevivência” está constantemente ativado, tornando uma tarefa árdua relaxar, confiar e não ser em algum momento pego pelo medo e todas as reações que essa emoção traz. Idosos, adultos, adolescentes e crianças, todos são acometidos em algum momento pela angústia, desconforto e incertezas com relação ao que esperar, pelo dia de amanhã. De fato, ao olhar para o cenário atual, é desafiador aquietar a alma, o coração e visualizar mudanças significativas para amanhã, semana que vem, mês que vem, ou quem sabe para o final do ano. Diante do exposto, viver um dia de cada vez, com tudo que ele oferece, estando presente no presente é um caminho para equilibrar a balança da razão versus emoção.
Pelo fato do cérebro estar no modo “primitivo”, pronto para lutar ou fugir, pensamentos generalistas como “isso não vai acabar”, e catastróficos como “as coisas só vão piorar”, visitam nossa mente com mais frequência e intensidade, levando a emoções desagradáveis e reações fisiológicas que podem interpretar estes pensamentos distorcidos como cem por cento verdadeiros e influenciarem no comportamento a ser adotado para responder a esse modo de autopreservação acionado. Porém, serão comportamentos desadaptados, pois a leitura foi realizada a partir de uma avaliação distorcida. O convite para viver um dia de cada vez é um encorajamento para viver o agora com todas as suas possibilidades agradáveis e desagradáveis, focando momento a momento, desafio a desafio, construindo pontes hoje para conectar ao amanhã de forma mais saudável, tendo tanto os pensamentos quanto as emoções mais peneiradas, filtradas e com isso mais ajustados. Viver hoje não é sinônimo de irresponsabilidade, mas é se responsabilizar com o que pode ser modificado. Para alcançar a prática de viver um dia de cada vez posso lançar mão da Terapia Comportamental Baseada em Mindfulness que diz respeito a capacidade de prestar atenção no momento presente, é a habilidade de estar consciente dos pensamentos, emoções, sensações e ações, no aqui e agora, sem julgamento ou crítica a si mesmo ou a própria experiência. É comum ouvir de clientes o desejo de livrar-se da emoção e do pensamento desagradável, mas de acordo com essa abordagem deve-se olhar para essa emoção e pensamento, aceitar que existem e deixá-los ir, porque eles se vão. Assim como na metáfora da onda, em que as ondas vêm e vão, assim também é com as emoções e pensamentos. É preciso intencionalmente desenvolver a capacidade de suportar os desconfortos e aguardar, pois se esperarmos um pouco, poderá ser constatado que a ação que a situação exigia era apenas aguardar. Temos uma cultura de se livrar de tudo que incomoda ou parece não servir mais, cultura do descartável, apresentada no livro "Modernidade Líquida", Zygmunt Bauman. Vemos então que esse é um comportamento aprendido, sendo assim pode ser ressignificado. Nem sempre é para descartar, por exemplo os sentimentos de estar sufocado, tenso, descontente. Ao acolher e pensar sobre o que está sentindo, é possível se conectar a valores e princípios e voltar o foco, olhar para aquilo que realmente importa e pode estar sendo soterrado com as preocupações com o amanhã que ainda não chegou. Redirecionar minha atenção para o hoje, contemplar o presente, pode trazer presentes que estão passando desapercebidos e que são extremante essenciais para a saúde mental.
O que você pode contemplar hoje, que irá revelar belezas que estavam escondidas por trás de um funcionar no piloto automático que olha mas não vê? Será o amor no olhar do seu filho? Será o cheiro do café coado? Será o nascer do sol? Será o canto dos pássaros? Será uma brincadeira em família encharcada de gargalhadas? Será a consciência do respirar, sinalizando que há vida?  
Assim como o mindfulness (atenção plena, consciência do presente) tem comprovações cientificas dos seus benefícios, a espiritualidade também vem ganhando terreno na ciência. Já é validado os efeitos positivos da espiritualidade à saúde física e mental, além das combinações positivas com a qualidade de vida e bem-estar.
As autoras Panzini e Bandeira (2007) mostram que existem quatro razões para a ligação entre religião e saúde que são: crenças religiosas permitem uma visão de mundo que fornece um sentido às experiências; crenças e práticas religiosas podem evocar emoções positivas; a religião utiliza rituais que facilitam as principais transições de vida (nascimento de filhos, casamento, adoecimento e morte); crenças religiosas funcionam como agentes de controle social direcionando os comportamentos socialmente aceitáveis.
Sendo assim, pratique sua fé, alimente sua alma com que te traz esperança, possibilitando viver um dia de cada vez, distinguindo o que está e o que não está ao seu alcance, agindo intencionalmente no que é possível, ajustando as lentes dos óculos para enxergar os presentes no presente e sendo um modelo significativo para sua criança e adolescente.

Um grande abraço,

Ana Paula Moreira
CRP 06/105482
Psicóloga – Crianças e Adolescentes  
Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental 
Contato: 12-99231-3125