De acordo com Etkin et al (2005) e Moras (2006), é possível se estabelecer uma relação entre as neurociências e as psicoterapias. Dessa forma, Liggan & Kay (1999), ponderam que os estudos acerca dos circuitos neurais dos desajustes mentais se refletem na prática clínica por ampliar a visão dos mecanismos neurobiológicos associados às alterações psíquicas, bem como, conforme Beauregard (2007), na revelação de circuitos neurais relacionados com a regressão dos sintomas, resultado da aplicação bem sucedida das técnicas da Terapia Cognitivo Comportamental. 

Estes estudos proporcionam uma evolução nas práticas desta terapia ocasionando maiores benefícios, seja pelo desenvolvimento de novas técnicas seja pelo fortalecimento com o uso de fármacos. Em resumo, o entendimento dos alicerces neurobiológicos presentes em uma manifestação emocional representa grande avanço para a psicologia.

Quanto aos estudos realizados acerca dos transtornos de ansiedade, LeDoux (1998) e Liggan & Kay (1999), mostram a relação entre resistência à extinção de reações de medo somada a manifestação de comportamentos de evitação com o desenvolvimento dos distúrbios, assim como, de acordo com Mocaiber et al (2008) e Ochsner & Gross (2005), a desvantagem do sujeito na regulação de emoções negativas na intensificação destes distúrbios.

Podemos dizer que a regulação emocional é possível através das estratégias de exposição, distração e reestruturação cognitiva, o que faz o tratamento com Terapia Cognitivo Comportamental promissor no sentido de abranger técnicas singulares tanto para a extinção do medo condicionado como para ajuste cognitivo das emoções. O conhecimento dos fenômenos neurológicos envolvidos na exposição, distração e reestruturação são de fundamental importância no aprimoramento da Técnica Cognitivo Comportamental.

Resultados de estudos comprovam a eficácia da Terapia Cognitivo Comportamental associada a conhecimentos biológicos acerca dos fenômenos psíquicos na regulação da emoção, o que fortalece sua orientação terapêutica e a torna uma forma de psicoterapia sustentada por conceitos e evidências científicas resultantes das análises de estudos clínicos bem como por conteúdo das ciências básicas.

 

As Terapias Cognitivo Comportamentais e o aporte das neurociências

De acordo com Beck (2005), estudos comprovaram a eficácia da Terapia Cognivo Comportamental, cuja forma de tratamento permite melhor manejo de variados transtornos mentais. A integração do recurso terapêutico com a neurociência se baseia na interação entre mente e cérebro, pois ambos são integrados e interdependentes. Conforme Beauregard (2007), os processos mentais estão associados à plasticidade cerebral, tanto no nível celular como no molecular e em ligações neurais. Segundo o autor, pensamentos relacionados a medo aumentam a produção de adrenalina, porém, cognições cujo conteúdo se refere à felicidade, predomina-se a produção da substância endorfina. Quanto aos processos neurais, eles se envolvem com demais mecanismos fisiológicos no que se refere ao sistema imune e ao endócrino, e estes contribuem para o intercâmbio entre os fenômenos mentais e cerebrais (Porto et al, 2008).

Para Porto et al (2008), os estudos em neurociências são importantes no sentido de fortalecer os saberes referentes aos alicerces neurobiológicos das psicopatologias e dos processos mentais envolvidos durante o processo de aplicação das técnicas de Terapia Cognitivo Comportamental, bem como auxiliar para que haja o surgimento de intervenções mais promissoras responsáveis pela evolução da eficácia desta modalidade de terapia. Segundo estudos de regulação da emoção, há possibilidade de se associar descobertas da neurociência às abordagens teóricas do respectivo recurso terapêutico. Dessa forma, em investigações sobre regulação de emoções negativas, em especial da ansiedade, o objetivo é focar na relação entre as Terapias Cognitivo Comportamentais e as neurociências no tratamento do transtorno.

Conforme LeDoux (1998), estudos confirmam a relação entre o desenvolvimento de transtornos mentais com a falta de habilidades no controle do medo, sendo que, segundo Ochsner & Gross (2005), tais transtornos se relacionam com a escassez no aprimoramento da capacidade de regulação de emoções negativas. Sendo assim, a manutenção do medo e a desvantagem em coordenar emoções a ele relacionadas promovem maior possibilidade de se adquirir transtornos de ansiedade. De acordo com Mocaiber et al (2008), o estudo sobre circuitos neurais responsáveis pela extinção tem considerável influência clínica. Dessa forma, o surgimento dos transtornos de ansiedade tem associação com a resistência em extinguir manifestações emocionais aprendidas a estímulos causadores de ansiedade bem como se relaciona com a presença de comportamentos de evitação.

O manejo clínico com a Terapia Cognitivo Comportamental se caracteriza pela aplicação de técnicas específicas cujo objetivo é a eliminação do medo condicionado e por garantir melhor trabalho cognitivo das emoções pelo indivíduo. Estes processos envolvem circuitos neurais e fenômenos fisiológicos estudados pelas neurociências, o que torna fundamental estes estudos no aprimoramento das técnicas cognitivas.

Ansiedade: aspectos biológicos

Segundo estudos em neurociência, foi revelada a associação entre a amigdala e o processo de desenvolvimento do medo condicionado. Ao nos encontrarmos em meio a situações de perigo, há ocorrência de manifestações endócrinas, autonômicas e comportamentais no organismo. Para Charney (2003), a amígdala, ao ser ativada, estimula sistemas relacionados ao controle da manifestação de diferentes reações.

A amígdala é composta por diversos núcleos, mas nem todos se relacionam com o condicionamento do medo, apenas os núcleos central e lateral têm principal influência neste mecanismo. Quanto ao núcleo central, este se caracteriza por ser a mais importante ligação com os setores controladores das reações emocionais (Charney, 2003; LeDoux, 1998; Sotres-Bayon et al, 2006).

Conforme Porto et al (2008), a programação do cérebro inclui a detecção de perigos, sejam eles adquiridos por nossos ancestrais em suas rotinas como também os aprendidos na atualidade, e a amigdala, através de suas conexões de entrada e saída, é essencial em tal processo. Pesquisas evidenciam que tanto os homens como os animais desenvolvem medo de objetos dotados de grande carga nociva conforme o passar dos anos. Esta habilidade de detectar e se manifestar diante de um estímulo com importante conteúdo nocivo, é algo necessário para a sobrevivência, ou seja, biologicamente, somos criados com esta capacidade, cujo objetivo é a preservação da espécie. Nota-se a existência de indivíduos com medos específicos, como de ofídios, porém este estímulo, atualmente, se torna menos importante para o homem em comparação a estímulos advindos quando na presença de armas de fogo. Sendo assim, de acordo com Hofman (2008), somos capazes de emitir manifestações de proteção mais eficazes segundo nossa constituição biológica, bem como reagir seletivamente conforme características ambientais ancestrais. Os estímulos selecionados conforme a evolução humana são percebidos intensamente no ambiente, então, tais estimulações concentram a atenção, são notadas automaticamente. Para Ohman (2005), de forma ampla, há aquisição de sensibilidade pelos indivíduos diante da identificação destas estimulações, senso este que se intensifica quando tal estimulação de fato provoca medo, situação esta na qual o sujeito desenvolve fobia diante dela.

Em resumo, o ser humano apresenta uma notável capacidade de perceber estímulos com importante grau de periculosidade, porém a intensidade desta percepção é maior em indivíduos com desenvolvimento de fobias diante deles.

Conforme Porto et al (2008), mecanismos associados à aprendizagem do medo promovem a emissão de manifestações rápidas na presença de estímulos com significativo potencial nocivo, bem como reações mais lentas relacionadas à percepção de estímulos sensoriais de maior complexidade. Quanto às reações mais velozes, de acordo com Charney (2003), estas são emitidas através das projeções do tálamo sensorial para a amigdala lateral. Tal projeção permite condicionamento dos sistemas auditivos e visuais simples relacionados a reações de medo de baixo nível de consciência. Em contrapartida, as reações mais lentas acontecem por meio de projeções do córtex sensorial de associação e estruturas corticais mesotemporais para a amigdala, projeções estas as quais permitem manifestações condicionais ante a um estímulo sensorial complexo. Para LeDoux (1998), o caminho percorrido pelas informações na via tálamo-amígdala, por ser mais curto e mais rápido, permite iniciar uma reação na presença de um estímulo consideravelmente perigoso antes mesmo da identificação deste perigo, ou seja, a manifestação é rápida o suficiente para haver possibilidade de se reagir a estas situações de periculosidade imediata. Porém, em ocasiões nas quais não haja perigo de fato, o caminho cortical deverá inibir a via direta, impedindo emissão de respostas inadequadas.

Ao falarmos das vias tálamo-amígdala e córtex-amígdala, elas se encontram no núcleo lateral da respectiva amígdala. Sendo assim, após a passagem da informação sensorial pela amígdala lateral, a mensagem é distribuída em paralelo em direção aos diversos núcleos deste órgão. O conteúdo da informação pode ser modulado pela presença de sistemas de memórias de experiências passadas ou relacionados ao estado homeostático do indivíduo, o que o habilita a desenvolver uma variabilidade de reações de defesa (Charney, 2003; LeDoux, 1998).

Aspectos comportamentais, intervenções comportamentais e fenômenos fisiológicos associados

Quanto aos pensamentos automáticos de indivíduos ansiosos, são carregados de ideações referentes a perigo. De acordo com Barlow (2002), o processo cognitivo em transtornos de ansiedade se relaciona com a vulnerabilidade do  sujeito, ou seja, ele passa a dar uma importância maior ao perigo do que à sua capacidade pessoal de trabalhar os sentimentos em contextos considerados nocivos, diante da avaliação de uma situação como perigosa, desenvolvem mais intensamente pensamentos mantenedores de ansiedade. Na pessoa ansiosa, portanto, seus esquemas cognitivos associados à percepção do perigo sugerem pensamentos automáticos negativos cujo conteúdo se relaciona a catástrofes físicas, psicológicas ou sociais. Sendo assim, os sintomas de ansiedade, diante de um contexto de perigo, se tornam ainda mais intensos, se apresentam como reação a um sinal de  ameaça maior.

O paciente, ao ser submetido a tratamento, é convidado a questionar estes pensamentos, fazer melhor reavaliação de seu conceito de perigo através da técnica de exposição, algo estratégico para que esta mudança aconteça. O sujeito, ao ser exposto, tem a oportunidade de fortalecer sua capacidade de controle do medo, há redução da tendência à previsão de situações futuras sempre danosas. Dessa forma, a exposição permite ao indivíduo constatar o quão irreais são suas previsões catastróficas, há diminuição da ansiedade bem como da emissão de respostas de evitação. Conforme Hofmann (2008), o método da exposição, para ser aplicado com sucesso, deve estar acompanhado de mudanças nos fenômenos cognitivos da pessoa. Assim, a exposição permite ao mesmo tempo um manejo cognitivo o qual ocasionará mudanças nas noções de perigo de sujeitos ansiosos. Diante disto, Hofmann denomina o processo de exposição não como uma intervenção comportamental, mas cognitiva, isto é, apesar do mecanismo não promover reestruturação cognitiva explícita, acaba por ter uma ação semelhante por permitir mudanças nas cognições disfuncionais.

Para Izquierdo (2004), o recurso da exposição característico da Terapia Cognitivo Comportamental desperta no paciente acometido por medos intensos a “arte de esquecer”, por permitir a eliminação do medo condicionado e redução dos sintomas. Com considerável função adaptativa, a extinção garante a não emissão de comportamentos ou respostas inadequadas, e, através dela, é importante destacar que não há perda do aprendizado, mas há surgimento de um novo que substitui e inibe a resposta do anterior. Assim, o reaparecimento da resposta de medo já extinta, sugere que o ato de extinguir não desfaz as antigas associações relacionadas à memória das reações de medo, mas evita que os estímulos provoquem a reação. Conforme  Hermans et al (2006), não há como se apagar a memória do medo, porém, a extinção permite controlar sua manifestação sem a necessidade de se descartar esta memória. Dessa forma, o mecanismo de exposição age acionando estruturas cerebrais redutoras da expressão do medo.

Segundo Sotres-Bayon et al (2006), o mecanismo fisiológico da extinção do medo se caracteriza pela conexão entre áreas cerebrais corticais e subcorticais, especificamente entre o córtex pré-frontal e a amígdala. Após haver extinção, a capacidade da estimulação condicionada influenciar a resposta condicionada por meio da ligação entre o núcleo lateral da amígdala e o núcleo central é administrada pelo córtex pré-frontal medial. Conforme Charney (2003), a reciprocidade entre a amígdala e o córtex pré-frontal medial contribui para o enfraquecimento das manifestações de medo e eliminação de reações comportamentais de medo condicionado. De acordo com Sotres-Bayon et al (2006), a interação entre estas regiões também pode ser influenciada por uma informação contextual gerada pelo hipocampo. Dessa forma, nota-se a presença de três setores cerebrais no processo de extinção do medo condicionado: o córtex pré-frontal ventromedial, amígdala e hipocampo, juntamente com a ação do córtex pré-frontal medial administrando a expressão de medo e evitando a ação da amígdala.

Para Ohman (2005), a ansiedade não se associa apenas à atividade intensa da amígdala, mas também à carência da modulação do pré-frontal sob esta área. O sistema subcortical e o córtex pré-frontal possuem influência mútua na modulação da resposta emocional mais pertinente ao contexto.

Para maior eficácia da técnica de exposição, se recomenda não a associar a sinais de segurança com a finalidade de fazer o indivíduo melhor focar em seus medos. Os sinais de segurança são representados pela presença neutralizadora do terapeuta, bem como o ato de se esquivar da situação ativadora de ansiedade (Hermans et al, 2006; Rachman, Radomsky e Shafran, 2008). Estes sinais, ao influenciarem negativamente no processo de extinção, dificultarão a emissão de nova resposta comportamental, promovendo retardo dos efeitos do procedimento de exposição. O analista deve aconselhar o paciente a reprimir comportamentos de evitação, pois isto garante enfraquecimento das sensações de medo ao evitar se expor à situação. Apesar dos sinais de segurança serem por um lado dificultadores da extinção do medo condicionado, por outro podem ser fonte de benefícios se aplicados nos estágios iniciais do tratamento com o objetivo de se reduzir uma ansiedade intensa, o que minimiza os níveis de recusas e abandono da terapia. De acordo com Rachman et al (2008), o psicólogo deve se atentar quando os comportamentos de segurança começam a influenciar negativamente na eficácia da técnica, o que requer eliminação destes comportamentos.

O medo contextual também exerce influência nas manifestações de ansiedade, algo motivador para a melhor aplicação do método expositivo. Conforme LeDoux (1998), no momento do condicionamento do medo, a pessoa se atenta tanto ao estímulo principal quanto aos demais estímulos ambientais. O condicionamento do medo contextual, portanto, se caracteriza pela presença de todos os estímulos do ambiente, não somente o estímulo condicionado principal.

Para Charney (2003), em relação ao condicionamento contextual espacial, pesquisas em neurociência mostram que através das projeções do hipocampo para a amígdala via fórnix, este condicionamento é manifestado. Segundo LeDoux (1998), em experimentos com ratos acometidos por lesões no hipocampo, se constatou o descarte por eles, de forma seletiva, das manifestações de medo geradas pela estimulação do contexto, porém, suas reações resultantes do estímulo específico condicionado não sofreram influência. Uma vez que a função do hipocampo, entre outras, é gerar uma percepção que represente o contexto ambiental, os estímulos individuais percebidos se somam aos demais estímulos, nos dando a capacidade de estabelecer relações entre eles. Dessa forma, o hipocampo trabalha com as informações referentes ao espaço. Conforme Charney (2003), o córtex perihinal rostral, o córtex pré-frontal ventro medial e a ínsula anterior (agranular) também se relacionam com a modulação do medo contextual.

O reaparecimento de manifestações supostamente extintas pode ocorrer, seja por mudanças de contexto ou presença de sinais de segurança, o paciente, ao ser exposto a novas situações não abordadas ao longo das sessões, poderá ficar ansioso. Segundo Hermans et al (2006), o sucesso da técnica da exposição está no fato de despertar memórias não associadas ao medo. No entanto, situações não envolvidas no processo terapêutico podem despertar lembranças das expressões de medo como também sua regressão. À vista disso, o analista deve permitir ao sujeito sua exposição em contextos diversos, para que se obtenha melhores efeitos. Porém, a realização de exposições em múltiplas situações ou no meio proporcionador do medo, é, por vezes, difícil. Surge então a aplicação de estratégias cognitivas sob as novas circunstâncias, com o objetivo de se anular o possível medo nelas presentes. Dentre os métodos cognitivos estão: acionar uma lembrança do terapeuta quando houve extinção do medo e se atentar a conhecimentos advindos da intervenção terapêutica.

Ao nos referirmos ao medo contextual, ele se relaciona a um agrupamento de estímulos e não a um estímulo peculiar. Este fator deve ser abordado no esquema terapêutico.

 Aspectos cognitivos, intervenções cognitivas e fenômenos fisiológicos associados

A ansiedade, enquanto transtorno, faz com que o paciente tenha uma interpretação e percepção quanto às sensações corporais como sendo nocivas ou ameaçadoras. De acordo com Paulus e Stein (2006), estas interpretações são controladas pelo circuito neural que possui a ínsula anterior como componente muito importante. Apesar das pesquisas sobre a ansiedade se centrarem no papel da amígdala, estes autores destacam a importância da ínsula na manifestação deste transtorno. O córtex insular se relaciona com a emissão de sinais antecipatórios necessários ao aprendizado de reações aversivas, ou seja, através dele, como faz parte do mecanismo interoceptivo, é possível gerar dados sobre a condição corporal aversiva posterior, isto é, informações sobre as reações corporais futuras relacionadas ao estímulo condicionado. Tais informações seguem para áreas cerebrais críticas com o intuito de se ativar a atenção e as ações executivas.

O significado da interocepção se associa à noção de estado fisiológico de todo organismo, tais como temperatura, dor entre outras. Conforme Paulus e Stein (2006), os dados interoceptivos permitem melhor autoconsciência por possibilitarem o estabelecimento de uma ligação entre mecanismos cognitivos, afetivos e a condição corporal. O conhecimento sobre a situação interoceptiva elaborado na ínsula anterior é redinfundido para o córtex singulado anterior, elemento do sistema executivo central cuja função é preservar os recursos atencionais disponíveis. Para Nagai, Kishi e Kato (2007), a ínsula se associa à elaboração da raiva, medo, felicidade, repugnância e demais manifestações emocionais. Sendo assim, o córtex insular pode influenciar em transtornos de humor, pânico, estresse pós-traumático, obsessivo compulsivo, compulsão alimentar e esquizofrenia. Etkin e Wager (2007), afirmam que as estruturas ligadas aos distúrbios de fobia específica, social e transtorno de estresse pós-traumático se unificam em um fator comum para a ansiedade: a hiperativação da amígdala bem como da ínsula.

Pela teoria de Paulus e Stein (2006), há diversas razões para se unir a ação da ínsula na causa da ansiedade. Um motivo seria a presença de ligações anatômicas entre o córtex insular, límbico e áreas relacionadas ao mecanismo executivo de considerável importância na modificação das percepções fisiológicas homeostáticas e na análise cognitiva encontrada em pacientes com ansiedade quando demonstram hiperestimulação autonômica e preocupação. Outro motivo seria sua influência na alteração da previsão de sinais, característica da ansiedade a qual predispõe o indivíduo a cognições e emoções centradas no futuro. Dessa forma o organismo prevê um conjunto de alterações relacionadas aos pensamentos e emoções associadas a visões de futuro por ele determinadas.

Quanto ao transtorno de pânico, de acordo com Rangé & Bernik (2001), é definido como a manifestação de um medo excessivo das sensações físicas corporais, ou seja, pacientes com pânico concentram intensamente sua atenção nestas percepções. Quando o foco se concentra nas sensações somáticas, há uma progressão da ansiedade e aumento destas sensações, fato este o qual contribui ainda mais para que o indivíduo se atente à tais percepções. No tratamento com Terapia Cognitivo Comportamental, a técnica da distração é uma prática estratégica cujo objetivo é influenciar o paciente a concentrar sua atenção em estímulos variados, e não em suas sensações físicas, ocasionando diminuição dos sintomas ansiosos.

Conforme Brandão et al (2008), há uma compatibilidade entre a teoria cognitivo comportamental e a hipótese da influência da ínsula na previsão de estímulos corporais alarmantes e transmissão deles para o córtex cingulado anterior, cuja função é alocar os recursos atencionais disponíveis para estes estímulos. Esta hipótese sugere um alicerce científico para o método de distração empregado na terapia do transtorno de pânico, método este o qual propõe desviar a atenção do indivíduo centrada nestes estímulos corporais. É necessário destacar o envolvimento de diversos circuitos neurais na manifestação do transtorno e o reconhecimento do papel da matéria cinzenta pariaquedutal, na sua porção dorsal, como estrutura de importância para o surgimento do ataque de pânico.

Mocaiber et al (2008), ao apoiarem a hipótese anterior, sugerem em sua análise que os distúrbios de ansiedade podem ser definidos em parte pela facilidade ou dificuldade em concentrar a atenção nas estimulações ou contextos negativos. Quanto ao método da distração, pode ser considerado como uma forma de ajustamento emocional. Sendo assim, os estudos referentes ao ajuste emocional intensificam a abordagem terapêutica da Terapia Cognitivo Comportamental, cuja proposta sugere redução da concentração dos recursos atencionais nas estimulações emocionais, o que enfraquece o impacto delas no desenvolvimento do transtorno.

Ao falarmos da relevância da atenção na percepção de algo, isto se baseia no fato de haver escassez de recursos no indivíduo para que ele perceba outra estimulação. A capacidade de uma tarefa importante esgotar recursos de processamento determinará a percepção ou não de estímulos distratores. Assim, o processo de cegueira atencional ocorre quando o sujeito, ao se concentrar em uma atividade substancial, deixa de perceber outros estímulos concorrentes (Mocaiber et al, 2008)

Podemos dizer que o processo de notificação de um estímulo tem a possibilidade de não ocorrer pelo fato de haver um empobrecimento dos esquemas atencionais causado pela dedicação à atividade principal. Porém, determinadas estimulações emocionais podem ser notificadas através do processamento automático, sem necessidade da ação de recursos atencionais, isto é, há estímulos emocionais cuja elaboração no cérebro é beneficiada e possibilita maior captura da atenção. A vantagem desta percepção apurada de estímulos nocivos está em sua natureza adaptativa, nos dando uma melhor noção quando na ocorrência de algo perigoso, sem a necessidade da ação de mecanismos de atenção (Mocaiber et al, 2008). Apesar disto, em indivíduos com histórico de transtornos psiquiátricos, o estímulo é percebido inadequadamente como nocivo, elaboração esta prejudicial às suas atividades e emoções cotidianas.

Conforme Mocaiber et al (2008), o sujeito, ao desempenhar uma atividade excessivamente difícil, necessita acionar mais mecanismos cerebrais, fazendo com que a percepção dos estímulos automáticos seja prejudicada. Isto ocorre pelo fato de haver maior desvio dos recursos atencionais em relação a estes estímulos. Esta capacidade de se desviar e concentrar a atenção tem significativa notoriedade em relação à prática terapêutica em pacientes ansiosos. Como resultado, no decorrer do tratamento, o método da distração deve estar em sintonia com as tarefas cotidianas do indivíduo objetivando a redução de sua atividade atencional direcionada a estímulos aversivos, o que gera atenuação da ansiedade.

De acordo com Erk, Abler e Walter (2006), há uma continuidade das práticas de regulagem da emoção, as quais incluem controle atencional bem como reformulação cognitiva, essenciais tanto no processo de mudança na compreensão emocional como na modificação da emissão de respostas emocionais. Dessa forma, tanto o controle atencional como as alterações cognitivas complexas, permitem melhor ajustamento cognitivo da emoção.

Conforme Ochsner & Gross (2005), a mudança cognitiva permite uma reavaliação de uma resposta emocional já constituída. Assim, a reavaliação cognitiva se relaciona com a reestruturação das emoções ao fazer mudanças nas interpretações de contextos emocionais e ao evitar a emissão de uma resposta emocional negativa derivada destes contextos. Esta regulação, segundo Mocaiber et al (2008), reduz a vivência de experiências negativas através da diminuição da ativação simpática. Então, a reestruturação cognitiva empregada na Terapia Cognitivo Comportamental pode promover regulação da emoção através de mudanças nos esquemas cognitivos, o que diminui o alerta fisiológico. Como resultado, o sucesso do tratamento é alcançado quando o sujeito ansioso é capaz de reformular as cognições disfuncionais e interpretar o contexto de forma mais ajustada, experimentando redução das sensações de ansiedade cognitivamente.

Em se tratando de circuitos neurais, para Mocaiber et al (2008) e Ochsner & Gross (2005), o método da reavaliação cognitiva se associa ao funcionamento do cingulado anterior dorsal e do córtex pré-frontal, relacionado à redução da ativação da amígdala. Podemos dizer que o córtex pré-frontal modula e controla a ação da amigdala. Quanto aos circuitos responsáveis pelo medo condicionado, eles também são gerados através do acionamento do córtex pré-frontal medial e da amígdala.

Erk et al (2006) nos mostram o fato de tanto a reavaliação cognitiva como a técnica da distração serem válidas para a diminuição de uma emoção negativa antecipatória. Porém, se o indivíduo usufrui somente estratégias de distração, elas não bloqueiam a antecipação negativa por longo período, ou seja, este recurso cognitivo apresenta ações pontuais, age exatamente durante a antecipação provocando redução da resposta emocional momentaneamente, mas seus benefícios a longo prazo não se perpetuam. Dessa forma, a distração não contribui para a mudança da percepção da emoção negativa antecipada, portanto não se propaga a situações futuras. Estas alterações só serão possíveis se forem aplicados métodos mais orientados ao futuro, visando a modificação da resposta emocional por meio da reavaliação dos fatos, prática esta ensejadora de melhores resultados no combate à antecipação emocional. A distração, portanto, suaviza a manifestação emocional no momento presente da antecipação, mas não reduz a sensação antecipatória aversiva de algo por si mesmo em outras ocasiões. A reestruturação cognitiva, enquanto processo eficaz, promove diminuição da ansiedade antecipatória do paciente por buscar evidências as quais irão julgar se as cognições encontram eco ou não com o mundo real do sujeito. A falta, bem como a insuficiência de rastros que fundamentam ou não um conceito permite sua reavaliação, o que se reflete na modificação da emoção do indivíduo.

Conclusão

Diante dos fatos refletidos até então, podemos dizer o quão importante é o conhecimento dos mecanismos fisiológicos envolvidos na patologia e na cura de transtornos mentais. A cura se relaciona com a prática bem sucedida da Terapia Cognitivo Comportamental, a qual sugere mudanças comportamentais no indivíduo através de técnicas como a distração, extinção, exposição e mudanças cognitivas, através da remodelação dos pensamentos disfuncionais. Tais técnicas, ao serem aplicadas, ativam mecanismos fisiológicos cerebrais importantes,  e, ao mesmo tempo, promovem modificações nos pensamentos, os tornando menos dramáticos e catastróficos quanto à visão de futuro, sensações corporais e julgamento de uma situação. A remodelação cognitiva mobiliza estruturas cerebrais, o que reforça a importância de se reportar à fisiologia desse fenômeno. A teoria da Técnica Cognitivo Comportamental, portanto, caminha ao lado da neurofisiologia tanto da mudança de pensamento como do processo de emissão dos comportamentos resultantes da mudança, o que faz desta técnica um procedimento associado à neurociência.


Autora: Laís Regina dos Santos - Psicóloga Clinica 

vispacem@uol.com.br