De
acordo com Etkin et al (2005) e Moras (2006), é possível se estabelecer uma
relação entre as neurociências e as psicoterapias. Dessa forma, Liggan &
Kay (1999), ponderam que os estudos acerca dos circuitos neurais dos desajustes
mentais se refletem na prática clínica por ampliar a visão dos mecanismos
neurobiológicos associados às alterações psíquicas, bem como, conforme
Beauregard (2007), na revelação de circuitos neurais relacionados com a
regressão dos sintomas, resultado da aplicação bem sucedida das técnicas da
Terapia Cognitivo Comportamental.
Estes
estudos proporcionam uma evolução nas práticas desta terapia ocasionando
maiores benefícios, seja pelo desenvolvimento de novas técnicas seja pelo
fortalecimento com o uso de fármacos. Em resumo, o entendimento dos alicerces
neurobiológicos presentes em uma manifestação emocional representa grande
avanço para a psicologia.
Quanto
aos estudos realizados acerca dos transtornos de ansiedade, LeDoux (1998) e
Liggan & Kay (1999), mostram a relação entre resistência à extinção de
reações de medo somada a manifestação de comportamentos de evitação com o
desenvolvimento dos distúrbios, assim como, de acordo com Mocaiber et al (2008)
e Ochsner & Gross (2005), a desvantagem do sujeito na regulação de emoções
negativas na intensificação destes distúrbios.
Podemos
dizer que a regulação emocional é possível através das estratégias de
exposição, distração e reestruturação cognitiva, o que faz o tratamento com
Terapia Cognitivo Comportamental promissor no sentido de abranger técnicas
singulares tanto para a extinção do medo condicionado como para ajuste
cognitivo das emoções. O conhecimento dos fenômenos neurológicos envolvidos na
exposição, distração e reestruturação são de fundamental importância no
aprimoramento da Técnica Cognitivo Comportamental.
Resultados
de estudos comprovam a eficácia da Terapia Cognitivo Comportamental associada a
conhecimentos biológicos acerca dos fenômenos psíquicos na regulação da emoção,
o que fortalece sua orientação terapêutica e a torna uma forma de psicoterapia
sustentada por conceitos e evidências científicas resultantes das análises de
estudos clínicos bem como por conteúdo das ciências básicas.
As
Terapias Cognitivo Comportamentais e o aporte das neurociências
De
acordo com Beck (2005), estudos comprovaram a eficácia da Terapia Cognivo
Comportamental, cuja forma de tratamento permite melhor manejo de variados
transtornos mentais. A integração do recurso terapêutico com a neurociência se
baseia na interação entre mente e cérebro, pois ambos são integrados e
interdependentes. Conforme Beauregard (2007), os processos mentais estão
associados à plasticidade cerebral, tanto no nível celular como no molecular e
em ligações neurais. Segundo o autor, pensamentos relacionados a medo aumentam
a produção de adrenalina, porém, cognições cujo conteúdo se refere à
felicidade, predomina-se a produção da substância endorfina. Quanto aos
processos neurais, eles se envolvem com demais mecanismos fisiológicos no que
se refere ao sistema imune e ao endócrino, e estes contribuem para o
intercâmbio entre os fenômenos mentais e cerebrais (Porto et al, 2008).
Para
Porto et al (2008), os estudos em neurociências são importantes no sentido de
fortalecer os saberes referentes aos alicerces neurobiológicos das psicopatologias
e dos processos mentais envolvidos durante o processo de aplicação das técnicas
de Terapia Cognitivo Comportamental, bem como auxiliar para que haja o
surgimento de intervenções mais promissoras responsáveis pela evolução da
eficácia desta modalidade de terapia. Segundo estudos de regulação da emoção,
há possibilidade de se associar descobertas da neurociência às abordagens
teóricas do respectivo recurso terapêutico. Dessa forma, em investigações sobre
regulação de emoções negativas, em especial da ansiedade, o objetivo é focar na
relação entre as Terapias Cognitivo Comportamentais e as neurociências no
tratamento do transtorno.
Conforme
LeDoux (1998), estudos confirmam a relação entre o desenvolvimento de
transtornos mentais com a falta de habilidades no controle do medo, sendo que,
segundo Ochsner & Gross (2005), tais transtornos se relacionam com a
escassez no aprimoramento da capacidade de regulação de emoções negativas.
Sendo assim, a manutenção do medo e a desvantagem em coordenar emoções a ele
relacionadas promovem maior possibilidade de se adquirir transtornos de
ansiedade. De acordo com Mocaiber et al (2008), o estudo sobre circuitos
neurais responsáveis pela extinção tem considerável influência clínica. Dessa
forma, o surgimento dos transtornos de ansiedade tem associação com a
resistência em extinguir manifestações emocionais aprendidas a estímulos
causadores de ansiedade bem como se relaciona com a presença de comportamentos
de evitação.
O
manejo clínico com a Terapia Cognitivo Comportamental se caracteriza pela
aplicação de técnicas específicas cujo objetivo é a eliminação do medo
condicionado e por garantir melhor trabalho cognitivo das emoções pelo
indivíduo. Estes processos envolvem circuitos neurais e fenômenos fisiológicos
estudados pelas neurociências, o que torna fundamental estes estudos no
aprimoramento das técnicas cognitivas.
Ansiedade:
aspectos biológicos
Segundo
estudos em neurociência, foi revelada a associação entre a amigdala e o
processo de desenvolvimento do medo condicionado. Ao nos encontrarmos em meio a
situações de perigo, há ocorrência de manifestações endócrinas, autonômicas e
comportamentais no organismo. Para Charney (2003), a amígdala, ao ser ativada,
estimula sistemas relacionados ao controle da manifestação de diferentes
reações.
A
amígdala é composta por diversos núcleos, mas nem todos se relacionam com o
condicionamento do medo, apenas os núcleos central e lateral têm principal
influência neste mecanismo. Quanto ao núcleo central, este se caracteriza por
ser a mais importante ligação com os setores controladores das reações
emocionais (Charney, 2003; LeDoux, 1998; Sotres-Bayon et al, 2006).
Conforme
Porto et al (2008), a programação do cérebro inclui a detecção de perigos,
sejam eles adquiridos por nossos ancestrais em suas rotinas como também os
aprendidos na atualidade, e a amigdala, através de suas conexões de entrada e
saída, é essencial em tal processo. Pesquisas evidenciam que tanto os homens
como os animais desenvolvem medo de objetos dotados de grande carga nociva
conforme o passar dos anos. Esta habilidade de detectar e se manifestar diante
de um estímulo com importante conteúdo nocivo, é algo necessário para a
sobrevivência, ou seja, biologicamente, somos criados com esta capacidade, cujo
objetivo é a preservação da espécie. Nota-se a existência de indivíduos com
medos específicos, como de ofídios, porém este estímulo, atualmente, se torna
menos importante para o homem em comparação a estímulos advindos quando na
presença de armas de fogo. Sendo assim, de acordo com Hofman (2008), somos
capazes de emitir manifestações de proteção mais eficazes segundo nossa
constituição biológica, bem como reagir seletivamente conforme características
ambientais ancestrais. Os estímulos selecionados conforme a evolução humana são
percebidos intensamente no ambiente, então, tais estimulações concentram a
atenção, são notadas automaticamente. Para Ohman (2005), de forma ampla, há
aquisição de sensibilidade pelos indivíduos diante da identificação destas
estimulações, senso este que se intensifica quando tal estimulação de fato
provoca medo, situação esta na qual o sujeito desenvolve fobia diante dela.
Em
resumo, o ser humano apresenta uma notável capacidade de perceber estímulos com
importante grau de periculosidade, porém a intensidade desta percepção é maior
em indivíduos com desenvolvimento de fobias diante deles.
Conforme
Porto et al (2008), mecanismos associados à aprendizagem do medo promovem a
emissão de manifestações rápidas na presença de estímulos com significativo
potencial nocivo, bem como reações mais lentas relacionadas à percepção de
estímulos sensoriais de maior complexidade. Quanto às reações mais velozes, de
acordo com Charney (2003), estas são emitidas através das projeções do tálamo
sensorial para a amigdala lateral. Tal projeção permite condicionamento dos
sistemas auditivos e visuais simples relacionados a reações de medo de baixo
nível de consciência. Em contrapartida, as reações mais lentas acontecem por
meio de projeções do córtex sensorial de associação e estruturas corticais
mesotemporais para a amigdala, projeções estas as quais permitem manifestações
condicionais ante a um estímulo sensorial complexo. Para LeDoux (1998), o
caminho percorrido pelas informações na via tálamo-amígdala, por ser mais curto
e mais rápido, permite iniciar uma reação na presença de um estímulo
consideravelmente perigoso antes mesmo da identificação deste perigo, ou seja,
a manifestação é rápida o suficiente para haver possibilidade de se reagir a
estas situações de periculosidade imediata. Porém, em ocasiões nas quais não
haja perigo de fato, o caminho cortical deverá inibir a via direta, impedindo
emissão de respostas inadequadas.
Ao
falarmos das vias tálamo-amígdala e córtex-amígdala, elas se encontram no
núcleo lateral da respectiva amígdala. Sendo assim, após a passagem da
informação sensorial pela amígdala lateral, a mensagem é distribuída em
paralelo em direção aos diversos núcleos deste órgão. O conteúdo da informação
pode ser modulado pela presença de sistemas de memórias de experiências
passadas ou relacionados ao estado homeostático do indivíduo, o que o habilita
a desenvolver uma variabilidade de reações de defesa (Charney, 2003; LeDoux,
1998).
Aspectos
comportamentais, intervenções comportamentais e fenômenos fisiológicos
associados
Quanto
aos pensamentos automáticos de indivíduos ansiosos, são carregados de ideações
referentes a perigo. De acordo com Barlow (2002), o processo cognitivo em
transtornos de ansiedade se relaciona com a vulnerabilidade do sujeito, ou seja, ele passa a dar uma
importância maior ao perigo do que à sua capacidade pessoal de trabalhar os
sentimentos em contextos considerados nocivos, diante da avaliação de uma
situação como perigosa, desenvolvem mais intensamente pensamentos mantenedores
de ansiedade. Na pessoa ansiosa, portanto, seus esquemas cognitivos associados
à percepção do perigo sugerem pensamentos automáticos negativos cujo conteúdo
se relaciona a catástrofes físicas, psicológicas ou sociais. Sendo assim, os
sintomas de ansiedade, diante de um contexto de perigo, se tornam ainda mais
intensos, se apresentam como reação a um sinal de ameaça maior.
O
paciente, ao ser submetido a tratamento, é convidado a questionar estes
pensamentos, fazer melhor reavaliação de seu conceito de perigo através da
técnica de exposição, algo estratégico para que esta mudança aconteça. O
sujeito, ao ser exposto, tem a oportunidade de fortalecer sua capacidade de
controle do medo, há redução da tendência à previsão de situações futuras
sempre danosas. Dessa forma, a exposição permite ao indivíduo constatar o quão
irreais são suas previsões catastróficas, há diminuição da ansiedade bem como
da emissão de respostas de evitação. Conforme Hofmann (2008), o método da
exposição, para ser aplicado com sucesso, deve estar acompanhado de mudanças
nos fenômenos cognitivos da pessoa. Assim, a exposição permite ao mesmo tempo
um manejo cognitivo o qual ocasionará mudanças nas noções de perigo de sujeitos
ansiosos. Diante disto, Hofmann denomina o processo de exposição não como uma
intervenção comportamental, mas cognitiva, isto é, apesar do mecanismo não
promover reestruturação cognitiva explícita, acaba por ter uma ação semelhante
por permitir mudanças nas cognições disfuncionais.
Para
Izquierdo (2004), o recurso da exposição característico da Terapia Cognitivo
Comportamental desperta no paciente acometido por medos intensos a “arte de
esquecer”, por permitir a eliminação do medo condicionado e redução dos
sintomas. Com considerável função adaptativa, a extinção garante a não emissão
de comportamentos ou respostas inadequadas, e, através dela, é importante
destacar que não há perda do aprendizado, mas há surgimento de um novo que
substitui e inibe a resposta do anterior. Assim, o reaparecimento da resposta
de medo já extinta, sugere que o ato de extinguir não desfaz as antigas
associações relacionadas à memória das reações de medo, mas evita que os
estímulos provoquem a reação. Conforme
Hermans et al (2006), não há como se apagar a memória do medo, porém, a
extinção permite controlar sua manifestação sem a necessidade de se descartar
esta memória. Dessa forma, o mecanismo de exposição age acionando estruturas
cerebrais redutoras da expressão do medo.
Segundo
Sotres-Bayon et al (2006), o mecanismo fisiológico da extinção do medo se
caracteriza pela conexão entre áreas cerebrais corticais e subcorticais,
especificamente entre o córtex pré-frontal e a amígdala. Após haver extinção, a
capacidade da estimulação condicionada influenciar a resposta condicionada por
meio da ligação entre o núcleo lateral da amígdala e o núcleo central é
administrada pelo córtex pré-frontal medial. Conforme Charney (2003), a
reciprocidade entre a amígdala e o córtex pré-frontal medial contribui para o
enfraquecimento das manifestações de medo e eliminação de reações
comportamentais de medo condicionado. De acordo com Sotres-Bayon et al (2006),
a interação entre estas regiões também pode ser influenciada por uma informação
contextual gerada pelo hipocampo. Dessa forma, nota-se a presença de três
setores cerebrais no processo de extinção do medo condicionado: o córtex
pré-frontal ventromedial, amígdala e hipocampo, juntamente com a ação do córtex
pré-frontal medial administrando a expressão de medo e evitando a ação da
amígdala.
Para
Ohman (2005), a ansiedade não se associa apenas à atividade intensa da
amígdala, mas também à carência da modulação do pré-frontal sob esta área. O
sistema subcortical e o córtex pré-frontal possuem influência mútua na
modulação da resposta emocional mais pertinente ao contexto.
Para
maior eficácia da técnica de exposição, se recomenda não a associar a sinais de
segurança com a finalidade de fazer o indivíduo melhor focar em seus medos. Os
sinais de segurança são representados pela presença neutralizadora do
terapeuta, bem como o ato de se esquivar da situação ativadora de ansiedade
(Hermans et al, 2006; Rachman, Radomsky e Shafran, 2008). Estes sinais, ao
influenciarem negativamente no processo de extinção, dificultarão a emissão de
nova resposta comportamental, promovendo retardo dos efeitos do procedimento de
exposição. O analista deve aconselhar o paciente a reprimir comportamentos de
evitação, pois isto garante enfraquecimento das sensações de medo ao evitar se
expor à situação. Apesar dos sinais de segurança serem por um lado
dificultadores da extinção do medo condicionado, por outro podem ser fonte de
benefícios se aplicados nos estágios iniciais do tratamento com o objetivo de
se reduzir uma ansiedade intensa, o que minimiza os níveis de recusas e
abandono da terapia. De acordo com Rachman et al (2008), o psicólogo deve se
atentar quando os comportamentos de segurança começam a influenciar
negativamente na eficácia da técnica, o que requer eliminação destes
comportamentos.
O
medo contextual também exerce influência nas manifestações de ansiedade, algo
motivador para a melhor aplicação do método expositivo. Conforme LeDoux (1998),
no momento do condicionamento do medo, a pessoa se atenta tanto ao estímulo
principal quanto aos demais estímulos ambientais. O condicionamento do medo
contextual, portanto, se caracteriza pela presença de todos os estímulos do
ambiente, não somente o estímulo condicionado principal.
Para
Charney (2003), em relação ao condicionamento contextual espacial, pesquisas em
neurociência mostram que através das projeções do hipocampo para a amígdala via
fórnix, este condicionamento é manifestado. Segundo LeDoux (1998), em
experimentos com ratos acometidos por lesões no hipocampo, se constatou o
descarte por eles, de forma seletiva, das manifestações de medo geradas pela
estimulação do contexto, porém, suas reações resultantes do estímulo específico
condicionado não sofreram influência. Uma vez que a função do hipocampo, entre
outras, é gerar uma percepção que represente o contexto ambiental, os estímulos
individuais percebidos se somam aos demais estímulos, nos dando a capacidade de
estabelecer relações entre eles. Dessa forma, o hipocampo trabalha com as
informações referentes ao espaço. Conforme Charney (2003), o córtex perihinal
rostral, o córtex pré-frontal ventro medial e a ínsula anterior (agranular)
também se relacionam com a modulação do medo contextual.
O
reaparecimento de manifestações supostamente extintas pode ocorrer, seja por
mudanças de contexto ou presença de sinais de segurança, o paciente, ao ser
exposto a novas situações não abordadas ao longo das sessões, poderá ficar
ansioso. Segundo Hermans et al (2006), o sucesso da técnica da exposição está
no fato de despertar memórias não associadas ao medo. No entanto, situações não
envolvidas no processo terapêutico podem despertar lembranças das expressões de
medo como também sua regressão. À vista disso, o analista deve permitir ao
sujeito sua exposição em contextos diversos, para que se obtenha melhores
efeitos. Porém, a realização de exposições em múltiplas situações ou no meio
proporcionador do medo, é, por vezes, difícil. Surge então a aplicação de
estratégias cognitivas sob as novas circunstâncias, com o objetivo de se anular
o possível medo nelas presentes. Dentre os métodos cognitivos estão: acionar
uma lembrança do terapeuta quando houve extinção do medo e se atentar a
conhecimentos advindos da intervenção terapêutica.
Ao
nos referirmos ao medo contextual, ele se relaciona a um agrupamento de
estímulos e não a um estímulo peculiar. Este fator deve ser abordado no esquema
terapêutico.
Aspectos cognitivos, intervenções
cognitivas e fenômenos fisiológicos associados
A
ansiedade, enquanto transtorno, faz com que o paciente tenha uma interpretação
e percepção quanto às sensações corporais como sendo nocivas ou ameaçadoras. De
acordo com Paulus e Stein (2006), estas interpretações são controladas pelo
circuito neural que possui a ínsula anterior como componente muito importante.
Apesar das pesquisas sobre a ansiedade se centrarem no papel da amígdala, estes
autores destacam a importância da ínsula na manifestação deste transtorno. O
córtex insular se relaciona com a emissão de sinais antecipatórios necessários
ao aprendizado de reações aversivas, ou seja, através dele, como faz parte do
mecanismo interoceptivo, é possível gerar dados sobre a condição corporal
aversiva posterior, isto é, informações sobre as reações corporais futuras
relacionadas ao estímulo condicionado. Tais informações seguem para áreas
cerebrais críticas com o intuito de se ativar a atenção e as ações executivas.
O
significado da interocepção se associa à noção de estado fisiológico de todo
organismo, tais como temperatura, dor entre outras. Conforme Paulus e Stein
(2006), os dados interoceptivos permitem melhor autoconsciência por
possibilitarem o estabelecimento de uma ligação entre mecanismos cognitivos,
afetivos e a condição corporal. O conhecimento sobre a situação interoceptiva
elaborado na ínsula anterior é redinfundido para o córtex singulado anterior,
elemento do sistema executivo central cuja função é preservar os recursos
atencionais disponíveis. Para Nagai, Kishi e Kato (2007), a ínsula se associa à
elaboração da raiva, medo, felicidade, repugnância e demais manifestações
emocionais. Sendo assim, o córtex insular pode influenciar em transtornos de
humor, pânico, estresse pós-traumático, obsessivo compulsivo, compulsão
alimentar e esquizofrenia. Etkin e Wager (2007), afirmam que as estruturas
ligadas aos distúrbios de fobia específica, social e transtorno de estresse
pós-traumático se unificam em um fator comum para a ansiedade: a hiperativação
da amígdala bem como da ínsula.
Pela
teoria de Paulus e Stein (2006), há diversas razões para se unir a ação da
ínsula na causa da ansiedade. Um motivo seria a presença de ligações anatômicas
entre o córtex insular, límbico e áreas relacionadas ao mecanismo executivo de
considerável importância na modificação das percepções fisiológicas
homeostáticas e na análise cognitiva encontrada em pacientes com ansiedade
quando demonstram hiperestimulação autonômica e preocupação. Outro motivo seria
sua influência na alteração da previsão de sinais, característica da ansiedade
a qual predispõe o indivíduo a cognições e emoções centradas no futuro. Dessa
forma o organismo prevê um conjunto de alterações relacionadas aos pensamentos
e emoções associadas a visões de futuro por ele determinadas.
Quanto
ao transtorno de pânico, de acordo com Rangé & Bernik (2001), é definido
como a manifestação de um medo excessivo das sensações físicas corporais, ou
seja, pacientes com pânico concentram intensamente sua atenção nestas
percepções. Quando o foco se concentra nas sensações somáticas, há uma
progressão da ansiedade e aumento destas sensações, fato este o qual contribui
ainda mais para que o indivíduo se atente à tais percepções. No tratamento com
Terapia Cognitivo Comportamental, a técnica da distração é uma prática
estratégica cujo objetivo é influenciar o paciente a concentrar sua atenção em
estímulos variados, e não em suas sensações físicas, ocasionando diminuição dos
sintomas ansiosos.
Conforme
Brandão et al (2008), há uma compatibilidade entre a teoria cognitivo
comportamental e a hipótese da influência da ínsula na previsão de estímulos
corporais alarmantes e transmissão deles para o córtex cingulado anterior, cuja
função é alocar os recursos atencionais disponíveis para estes estímulos. Esta
hipótese sugere um alicerce científico para o método de distração empregado na
terapia do transtorno de pânico, método este o qual propõe desviar a atenção do
indivíduo centrada nestes estímulos corporais. É necessário destacar o
envolvimento de diversos circuitos neurais na manifestação do transtorno e o
reconhecimento do papel da matéria cinzenta pariaquedutal, na sua porção
dorsal, como estrutura de importância para o surgimento do ataque de pânico.
Mocaiber
et al (2008), ao apoiarem a hipótese anterior, sugerem em sua análise que os
distúrbios de ansiedade podem ser definidos em parte pela facilidade ou
dificuldade em concentrar a atenção nas estimulações ou contextos negativos.
Quanto ao método da distração, pode ser considerado como uma forma de
ajustamento emocional. Sendo assim, os estudos referentes ao ajuste emocional
intensificam a abordagem terapêutica da Terapia Cognitivo Comportamental, cuja
proposta sugere redução da concentração dos recursos atencionais nas
estimulações emocionais, o que enfraquece o impacto delas no desenvolvimento do
transtorno.
Ao
falarmos da relevância da atenção na percepção de algo, isto se baseia no fato
de haver escassez de recursos no indivíduo para que ele perceba outra
estimulação. A capacidade de uma tarefa importante esgotar recursos de
processamento determinará a percepção ou não de estímulos distratores. Assim, o
processo de cegueira atencional ocorre quando o sujeito, ao se concentrar em
uma atividade substancial, deixa de perceber outros estímulos concorrentes
(Mocaiber et al, 2008)
Podemos
dizer que o processo de notificação de um estímulo tem a possibilidade de não
ocorrer pelo fato de haver um empobrecimento dos esquemas atencionais causado
pela dedicação à atividade principal. Porém, determinadas estimulações
emocionais podem ser notificadas através do processamento automático, sem
necessidade da ação de recursos atencionais, isto é, há estímulos emocionais
cuja elaboração no cérebro é beneficiada e possibilita maior captura da
atenção. A vantagem desta percepção apurada de estímulos nocivos está em sua
natureza adaptativa, nos dando uma melhor noção quando na ocorrência de algo
perigoso, sem a necessidade da ação de mecanismos de atenção (Mocaiber et al,
2008). Apesar disto, em indivíduos com histórico de transtornos psiquiátricos,
o estímulo é percebido inadequadamente como nocivo, elaboração esta prejudicial
às suas atividades e emoções cotidianas.
Conforme
Mocaiber et al (2008), o sujeito, ao desempenhar uma atividade excessivamente
difícil, necessita acionar mais mecanismos cerebrais, fazendo com que a
percepção dos estímulos automáticos seja prejudicada. Isto ocorre pelo fato de
haver maior desvio dos recursos atencionais em relação a estes estímulos. Esta
capacidade de se desviar e concentrar a atenção tem significativa notoriedade
em relação à prática terapêutica em pacientes ansiosos. Como resultado, no
decorrer do tratamento, o método da distração deve estar em sintonia com as
tarefas cotidianas do indivíduo objetivando a redução de sua atividade
atencional direcionada a estímulos aversivos, o que gera atenuação da
ansiedade.
De
acordo com Erk, Abler e Walter (2006), há uma continuidade das práticas de
regulagem da emoção, as quais incluem controle atencional bem como reformulação
cognitiva, essenciais tanto no processo de mudança na compreensão emocional
como na modificação da emissão de respostas emocionais. Dessa forma, tanto o
controle atencional como as alterações cognitivas complexas, permitem melhor
ajustamento cognitivo da emoção.
Conforme
Ochsner & Gross (2005), a mudança cognitiva permite uma reavaliação de uma
resposta emocional já constituída. Assim, a reavaliação cognitiva se relaciona
com a reestruturação das emoções ao fazer mudanças nas interpretações de
contextos emocionais e ao evitar a emissão de uma resposta emocional negativa
derivada destes contextos. Esta regulação, segundo Mocaiber et al (2008), reduz
a vivência de experiências negativas através da diminuição da ativação
simpática. Então, a reestruturação cognitiva empregada na Terapia Cognitivo
Comportamental pode promover regulação da emoção através de mudanças nos esquemas
cognitivos, o que diminui o alerta fisiológico. Como resultado, o sucesso do
tratamento é alcançado quando o sujeito ansioso é capaz de reformular as
cognições disfuncionais e interpretar o contexto de forma mais ajustada,
experimentando redução das sensações de ansiedade cognitivamente.
Em
se tratando de circuitos neurais, para Mocaiber et al (2008) e Ochsner &
Gross (2005), o método da reavaliação cognitiva se associa ao funcionamento do
cingulado anterior dorsal e do córtex pré-frontal, relacionado à redução da
ativação da amígdala. Podemos dizer que o córtex pré-frontal modula e controla
a ação da amigdala. Quanto aos circuitos responsáveis pelo medo condicionado,
eles também são gerados através do acionamento do córtex pré-frontal medial e
da amígdala.
Erk
et al (2006) nos mostram o fato de tanto a reavaliação cognitiva como a técnica
da distração serem válidas para a diminuição de uma emoção negativa
antecipatória. Porém, se o indivíduo usufrui somente estratégias de distração,
elas não bloqueiam a antecipação negativa por longo período, ou seja, este
recurso cognitivo apresenta ações pontuais, age exatamente durante a
antecipação provocando redução da resposta emocional momentaneamente, mas seus
benefícios a longo prazo não se perpetuam. Dessa forma, a distração não
contribui para a mudança da percepção da emoção negativa antecipada, portanto
não se propaga a situações futuras. Estas alterações só serão possíveis se
forem aplicados métodos mais orientados ao futuro, visando a modificação da
resposta emocional por meio da reavaliação dos fatos, prática esta ensejadora
de melhores resultados no combate à antecipação emocional. A distração,
portanto, suaviza a manifestação emocional no momento presente da antecipação,
mas não reduz a sensação antecipatória aversiva de algo por si mesmo em outras
ocasiões. A reestruturação cognitiva, enquanto processo eficaz, promove
diminuição da ansiedade antecipatória do paciente por buscar evidências as
quais irão julgar se as cognições encontram eco ou não com o mundo real do
sujeito. A falta, bem como a insuficiência de rastros que fundamentam ou não um
conceito permite sua reavaliação, o que se reflete na modificação da emoção do
indivíduo.
Conclusão
Diante dos fatos refletidos até então, podemos dizer o quão importante é o conhecimento dos mecanismos fisiológicos envolvidos na patologia e na cura de transtornos mentais. A cura se relaciona com a prática bem sucedida da Terapia Cognitivo Comportamental, a qual sugere mudanças comportamentais no indivíduo através de técnicas como a distração, extinção, exposição e mudanças cognitivas, através da remodelação dos pensamentos disfuncionais. Tais técnicas, ao serem aplicadas, ativam mecanismos fisiológicos cerebrais importantes, e, ao mesmo tempo, promovem modificações nos pensamentos, os tornando menos dramáticos e catastróficos quanto à visão de futuro, sensações corporais e julgamento de uma situação. A remodelação cognitiva mobiliza estruturas cerebrais, o que reforça a importância de se reportar à fisiologia desse fenômeno. A teoria da Técnica Cognitivo Comportamental, portanto, caminha ao lado da neurofisiologia tanto da mudança de pensamento como do processo de emissão dos comportamentos resultantes da mudança, o que faz desta técnica um procedimento associado à neurociência.
Autora: Laís Regina dos Santos - Psicóloga Clinica
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